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Vencedor em 3º lugar
Prêmio Clarice Lispector (Conto) da Biblioteca Nacional
Luci Collin vem construindo uma obra
vasta e intensa nos últimos anos, sobretudo no vigor poético da sua prosa. Não
quero com isso sugerir uma dicotomia simples entre prosa e poesia; mas, em sua
escrita múltipla, Collin de fato tem uma voz razoavelmente unificada e estável
nos versos, ao passo que na prosa realiza uma verdadeira explosão de modos,
ritmos, tons, personas, que vão construindo a cada peça toda uma nova história
da linguagem possível e impossível. É como se seus versos fossem uma faceta
possível em seu leque amplo, dentre as muitas que na prosa podemos ver mais
facilmente. Isso é um verdadeiro tour de force das
potencialidades na escrita, ainda mais num país que historicamente aposta tanto
em certo estilo jornalístico e insosso atrelado a um realismo triste do
terceiro mundo. Collin parece recusar qualquer uso de uma linguagem
pré-fabricada, bem como as noções caducas de realismo.
Para se ter uma ideia disso, basta
comparar os primeiros contos desta nova coleção como amostra da paleta:
“Intro-” se desenvolve pelo coloquial quase-falado da narração em primeira
pessoa, que conta em deriva uma tentativa fracassada de comprar um sofá no
shopping; “Florilégio” se volta para a narrativa em terceira pessoa, numa
descrição incômoda da vida como monstruosidades compiláveis e intermináveis
dispostas em herança, a partir da vida de uma mulher; já “Da capo”
parece um poema em prosa, com sintaxe longa, subordinadas angulosas e vozes
entremeadas quase sem pontuação, numa pequena selva barroca em forma musical.
Essa vertigem vai se desdobrar ao longo de todos os contos destes Dedos
impermitidos, porque cada um deles é uma vida única, ou um conjunto
complexo de vidas atravessadas como linguagem, levando ao extremo a ideia de
polifonia tal como a encontramos em Bakhtin, num só gesto que abraça o riso e o
trágico, como no esfacelamento amoroso de “Sol pertencente”, o banal e o absurdo
nos vários narradores da vida de Jonathan Swift em “O deão não rasteja”, ou a
complexa sobreposição de camadas do belo “Divinatório”.
Mas isso não tem o menor gosto de
comprovação teórica; pelo contrário, Luci Collin expressa um olhar muito atento
ao mundo em volta, seja para recontá-lo, seja para recriá-lo. Isso tudo com sua
devida abertura ao inacabado, como podemos depreender das palavras do narrador
de “Absoluta depuração” último conto do livro: “Ainda faltará falar de muitas
coisas. Tudo é alusivo”. Sim, alusivo e misturado, como quem renova a receita a
partir de ingredientes conhecidos. “Nunca fui de inventar prato novo. Conferi
os itens na despensa.” Essa conferida refinada, essa mistura inusitada é prato
mais que necessário de Collin: frescor de língua viva e que demanda relações.
Guilherme
Gontijo Flores
Autor(a) | Luci Collin |
Nº de páginas | 120 |
ISBN | 978-6-555-19088-5 |
Formato | 13,5x20,5 cm |